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Tiny Houses: a tendência de viver numa casa mais pequena

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Tiny houses

Coisas boas vêm em embalagens pequenas. A frase adapta-se perfeitamente ao conceito das ‘Tiny Houses’, ou microcasas, uma tendência que atrai cada vez mais pessoas, sejam jovens sozinhos, casais ou famílias com filhos. Outros escolhem as microcasas como solução para passar as férias, podendo até recuperar o investimento como alojamento turístico. O preço é um fator importante nas Tiny Houses, mas a rapidez de construção, a eficiência, a liberdade e por vezes a mobilidade são outras razões para esta escolha.

Movimento renascido depois da crise

Com origens nos anos 70, nos Estados Unidos, o movimento das Tiny Houses ganhou novo fôlego a partir da crise de 2008. Casas baratas, de construção rápida e eficientes tornaram-se a solução certa para jovens com o sonho de casa própria, mas que por vezes nem as rendas das cidades conseguiam pagar. A construção rústica ou modular, em madeira, aço, com materiais compósitos ou reciclados, abriu o mercado, cativando uns pela ecologia, outros pela arquitetura, outros até por um sentido de comunidade.

Mas não é só isso que continua a atrair muitas pessoas para as microcasas. Há a liberdade de uma ‘moradia’, por vezes num lugar isolado; a vontade de ter menos ‘coisas’ e concentrar no essencial; a mobilidade quando é uma casa em cima de um atrelado. Esta solução começou a ser procurada também por famílias que queriam investir numa casa de férias isolada e ecológica. Abriu a porta a pequenos alojamentos turísticos, refúgios de praia para surfistas ou de montanha para quem gosta da floresta. Dado o custo mais reduzido, estas pequenas casas de férias conseguem rentabilizar mais rapidamente o investimento.

A vida e três gatos em 21 metros quadrados

Joshua Ford, de 53 anos, não se imaginava “a viver numa casa maior do que o verdadeiramente necessário”, disse ao Contas Connosco. E se para a maioria das pessoas é um T3 ou ou uma vivenda, para este inglês bastam os 21m2 que tem em Serpins, concelho da Lousã. Natural de Sheffield, ‘Jos’ começou a visitar Portugal em 1989 e o tempo cá foi aumentando até decidir mudar-se de vez, há três anos.

Comprou a casa onde vive em 2005, e fez ele próprio a reconstrução: “É uma moradia de pedra construída em 1946, com apenas 21m2. Tinha três divisões pequeninas, que eu transformei numa só maior”. A única coisa que Jos fez para aumentar o espaço foi “subir o telhado para criar uma mezzanine por cima da cozinha”, onde tem a cama e espaço de arrumação. E não vive sozinho, na microcasa cabem ainda 3 gatas e a namorada de Jos, que trabalha em França e vem visitar ocasionalmente.

Marceneiro de profissão, Jos considera-se um “anti-consumista” e acha que a casa reflete o que ele sempre foi, mais do que uma escolha de vida. Recorda que o pai “comprou e reconstruiu casas em ruínas”, pelo que “talvez esteja a seguir as suas pisadas subconscientemente”. Fosse qual fosse a sua profissão, Jos viveria numa casa pequenina, apenas pretende construir um quarto maior ao lado quando conseguir.

‘Jos’ Ford vive na vila de Serpins, numa pequena casa de pedra que ele próprio reconstruiu. Não se imagina a viver numa habitação maior.

A casa dos sonhos não tem de ser um palácio

O exemplo de Jos pode ser um extremo: um modo de vida simples e muita auto-construção, mas há empresas que trabalham o mercado das Tiny Houses e não têm mãos a medir, principalmente desde o início da pandemia. A Jular, com quase 50 anos de existência, começou a apostar em casas modulares ecológicas em madeira há pouco mais de 10 anos. O turismo, com a criação de eco-resorts e outros projetos do género, tem sido o motor de crescimento da marca Treehouse, mas nos últimos anos as habitações definitivas ganharam peso.

“Uma das tendências tem sido as casas de primeira habitação, de vários tamanhos: as pessoas procuram viver mais perto da natureza”, explicou ao Contas Connosco Helder Santos, da Jular. Também “são cada vez mais os estrangeiros de todas as idades que escolhem vir morar para Portugal numa casa de madeira”.

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Apesar de trabalharem com casas que podem ultrapassar bastante os 100m2, “as mais pequenas continuam muito populares”. Um bom exemplo é o modelo Treehouse Riga, com apenas 44m2. “Temos vários clientes que vivem numa Riga”, garante Hélder Santos, exemplificando: “Uma família de surfistas com três filhos, junto à praia; um casal de uma médica e um arquiteto; um casal de médicos franceses no sudoeste alentejano; uma família de professores de música em Tomar”.

Segundo o responsável, as pessoas procuram essencialmente “um poiso para desligar do dia a dia, estar mais perto da natureza e com um orçamento reduzido”. Quanto a regiões, além dos surfistas que procuram a costa, há “expatriados na periferia de Lisboa”, e muitas casas de férias no sul.

A mobilidade das casas é possível, desde que seja prevista à partida. Hélder Santos conta que a Jular já instalou uma em Porto Covo, mudada depois para a zona do Porto. Quanto a preços, as imagens bem produzidas, quase paradisíacas, podem ‘assustar’ – e estas casas modulares permitem uma grande personalização em área ou divisão do espaço – mas nos modelos mais pequenos raramente passam dos 50 mil euros.

A Jular tem vendido cada vez mais casas pequenas de madeira para habitação e até já instalou uma em Porto Covo, que depois foi mudada para o Porto.

Inspire-se com alguns modelos de tiny houses nesta galeria:

As pessoas querem “destralhar”

Jorge Lira tem uma Tiny House de madeira a funcionar como escritório há cerca de 20 anos, na Maia. Arquiteto especializado em construção ecológica, considera-se um dos pioneiros na arquitetura contemporânea em madeira, e foi por isso que construiu o pequeno escritório de 18 m2 e três divisões. Hoje trabalha num edifício maior, mas continua a usar a ‘casa’ da Maia, como oficina de construção e restauro de gaitas de foles, outra das suas paixões. E não é por ser um especialista internacional no instrumento e receber visitantes de todo o mundo que precisa de mais espaço.

O arquiteto de 53 anos vê a tendência das microcasas a crescer “sobretudo em gente mais jovem e nas pessoas que querem uma vida mais simples, querem ‘destralhar”. E acredita que esta solução é adaptável a “qualquer tipo de clima e região”.

Em 2020, a pandemia levou a uma procura cada vez maior de casas individuais e a Steel Me, empresa onde Jorge Lira é responsável técnico e de produção, está a receber 20 contactos por semana. Além de modelos mais ‘convencionais’, mas pré-fabricados e a preços acessíveis, têm várias Tiny Houses no catálogo, sob a marca 5Dhome. Qualquer uma custa menos de 50 mil euros, mesmo tendo a maior dois quartos e 56 m2 de área. Outra solução que a marca 5Dhome criou foi uma moradia de dois pisos, a Cubic, que duplica a área sem ser preciso mais terreno, bastam 25m2. Estão a ser construídas duas no campus da Universidade de Aveiro e uma na Maia.

O arquiteto concorda que o custo é um fator apelativo, mas também “a rapidez de construção, o conceito chave na mão e algum ‘downsizing’, que é conceptual e não tem apenas a ver com o preço”. Só lamenta que o enquadramento legal seja “complexo, inexistente e equivalente a uma habitação convencional”.

Para o arquiteto Jorge Lira, as Tiny Houses podem ser construídas em “qualquer tipo de região ou clima”.

Ficou inspirado com este conceito das Tiny Houses? Seja para uma mudança de vida ou para uma casa de férias, ou até para rentabilizar como alojamento turístico, já sabe que o investimento é bastante inferior ao de uma casa ‘convencional’. É sempre mais fácil recorrer a um crédito Lar e Recheio quando os montantes necessários são mais baixos. Se calhar até tem um terreno de família que assim pode transformar. Mudar de vida pode ser mais fácil do que pensa!