Impostos

O que fazer com o reembolso do IRS?

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reembolso do IRS

Uma das melhores notícias do ano: ter direito a reembolso do IRS, e esse reembolso ser generoso com a sua carteira. É aquele dinheirinho extra que pode ajudar a pagar as próximas férias, a liquidar algumas dívidas, a dar entrada para o carro ou a comprar o computador que tanta falta tem feito. Para muitas famílias, é um balão de oxigénio que ajuda a fazer face ao desconforto financeiro, sobretudo em anos de pandemia como este.

Mas não se iluda. A frase “este ano, vou receber IRS” é falsa. O Estado não lhe está a dar nada, o dinheiro é e sempre foi seu, apenas significa que lhe foi retido mais imposto do que o devido. Quando entrega o IRS, são feitos os cálculos entre o imposto que o contribuinte terá de pagar e aquele que lhe foi retido durante o ano. A esta conta, são ainda retiradas as deduções relativas às despesas que efetuou, como as de saúde e educação e ainda as relativas à composição do seu agregado familiar. Só depois de se obter o resultado desta equação, se apura se o contribuinte terá direito a reembolso, a pagar IRS (no caso de lhe ter sido retido menos imposto do que o devido) ou se fica com o saldo a 0 (não terá de pagar IRS, mas também não tem direito a reembolso). Este acerto de contas só ocorre no momento em que entrega a sua declaração anual, podendo desde logo fazer uma simulação.

Depois desta explicação, pode voltar a pôr o sorriso no lábios. Mesmo sendo dinheiro que não lhe é dado, é sempre bem-vindo. Ainda para mais nesta altura do ano. Já volvidos os seis primeiros meses de 2021, é tempo de fazer um novo balanço e novos planos: aproveitar esse dinheiro para gozar o verão e, ao mesmo tempo, preparar já uma almofada financeira para o inverno. Pelo menos, é o que vai fazer Margarida Dias, de 37 anos e veterinária de profissão. “Vou receber mais de reembolso do que estava à espera, foi uma alegria quando fiz a simulação. Dá para aproveitar melhor as férias em família e para reforçar a minha conta poupança, que já não vê nenhum reforço há pelo menos dois anos”.

Os planos de Margarida são iguais aos de muitos outros portugueses, que conseguem repartir o reembolso do IRS entre prazer e poupança. É que neste contexto de alguma incerteza, o melhor é usar a prudência como conselheira e pôr de lado, pelo menos, uma boa parte do que receber. Anabela Vieira, 54 anos e assistente administrativa numa multinacional, ainda foi mais longe. Já recebeu o seu reembolso e preferiu jogar pelo seguro. “Ando há anos para subscrever um PPR (Plano Poupança Reforma), foi agora. Costumo aproveitar o reembolso para as férias, mas este ano decidi apenas poupar. Há dois anos fiz, inclusive, obras em casa, com a ajuda do dinheiro que recebi do IRS, mas agora foi todo para o PPR”. Anabela diz que com o avançar da idade e com tantos despedimentos na sua empresa, pensa mais do que nunca no seu futuro. “Isto não está nada risonho. Se eu ficar desempregada, ninguém me vai dar trabalho com esta idade. Além disso está mais do que na hora de poupar para a reforma, para ver se tenho uma velhice tranquila”.

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Se, ao contrário da Margarida e da Anabela, ainda não sabe que destino dar ao seu reembolso de IRS, confira as nossas sugestões, que aconselham moderação nos gastos e muita prudência.

  1. Subscreva uma conta poupança ou um PPR

Abra ou reforce a sua conta poupança. É sempre bom ter um pé-de-meia para fazer face a qualquer necessidade que surja mais tarde. Também pode investir num PPR, como fez a Anabela, para acautelar o futuro e preparar a velhice. Além disso, ainda pode deduzir 20% do montante entregue no PPR no IRS do próximo ano.

  1. Tenha um fundo de emergência à mão

Aqui, não é tanto o rentabilizar, mas ter dinheiro de lado para algum imprevisto que surja. Recomenda-se que seja uma conta com facilidade de movimento e de baixo risco, para que possa movimentar parte ou totalidade do dinheiro que tem reservado. Aconselha-se que o valor deste fundo tenha, pelo menos, seis vezes o valor mensal das suas despesas. Se as suas despesas familiares são à volta de 1.000€ por mês, idealmente deve ter neste fundo 6.000€. Mas atenção: usar só em caso de emergência…

  1. Amortize créditos

Guarde o reembolso para pagar algumas prestações que lhe caem todos os meses. Se aderiu às moratórias bancárias, por exemplo, é uma boa altura para usar o reembolso para amortizar algum do impacto que esta despesa tem nas suas finanças. O mesmo é válido para o cartão de crédito. Se conseguir, esta é uma boa altura para liquidar na totalidade esta despesa.

  1. Aplique o dinheiro em produtos de dívida pública

Outra opção a considerar é aplicar esse dinheiro em produtos de dívida pública, como os Certificados de Aforro, que têm um mínimo de subscrição baixo (100€) e também podem ser levantados a qualquer momento. Neste momento, a taxa de base dos Certificados de Aforro continua baixa (cerca de 0,3%), mas oferece um prémio de permanência de 0,5% do segundo ao quinto ano, e de 1% a partir do sexto ano. Também os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento são outra opção bastante viável, embora o montante mínimo de subscrição ou de reforço suba para os 1.000€. Os juros são pagos anualmente na conta bancária a uma taxa de base crescente, entre 0,75% e 2,25% brutos. Se mantiver este produto durante sete anos, terá um rendimento líquido de 1% ao ano.

  1. Invista em formação

É sempre uma boa ideia. Se no futuro quer auferir de um melhor salário, por que não investir na sua formação. Utilize o dinheiro do reembolso para aperfeiçoar um idioma ou aprender uma nova competência, que o faça progredir na carreira. Se tiver filhos, pode também abrir-lhes uma conta a que possam recorrer quando forem para a faculdade, por exemplo.

Já viu que ideias não faltam para fazer um bom uso do reembolso do seu IRS. Use a prudência, como a Margarida Dias e a Anabela Vieira, e poupe. Nunca se sabe o dia de amanhã.