Dinheiro

Está preparado para uma vida cashless?

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vida cashless

Continua a andar sempre com notas e moedas na carteira, a usar o multibanco para levantamentos todos os dias, ou a desesperar de cada vez que tem de pagar o parquímetro, mas gastou os trocos a tomar café? Se calhar está na altura de ‘mudar o chip’, pois tal como o trabalho ficou mais digital nos últimos anos e é possível tratar de inúmeras questões burocráticas e contactar serviços públicos à distância, o mesmo acontece com as compras e pagamentos.

O dinheiro é essencial para as nossas vidas, mas o mundo caminha cada vez mais para as transações cashless, para o fim definitivo das notas e moedas físicas. Um estudo de 2020 do banco Standard Chartered, feito em 12 países, concluiu que 64% dos inquiridos esperam que o seu país abandone a circulação de dinheiro e quase metade (44%) acreditam mesmo que isso vai acontecer até 2030.

Conveniência ‘forçada’

A pandemia global, o teletrabalho e os confinamentos decretados um pouco por todo o planeta alteraram o panorama das compras, que evoluíram para o online. Das mercearias à roupa, da tecnologia às refeições, tudo pode ser pago à distância de um clique, de um código ou de uma impressão digital. A conveniência e a simplicidade das transações digitais acabaram por ter um crescimento forçado pelas circunstâncias, mas a subida dos meios virtuais é agora imparável – seja o MB Way, as carteiras virtuais como a Google ou a Apple, as contas digitais, os cartões de utilização única.

Paralelamente, as medidas de distanciamento social e a preocupação com a segurança e a higiene, o evitar tocar em demasiadas superfícies, levaram a uma verdadeira ‘explosão’ dos pagamentos contactless, à qual ajudou o aumento do limite do valor aceite pelas máquinas TPA em Portugal para 50 euros, em linha com a maioria dos países europeus.

Sabia que no Canadá é possível pagar até 170€ em modo contactless? Japão, China, Austrália, Singapura e Nova Zelândia também oferecem limites acima de 100€.

Na prática, o tradicional cartão de débito, inventado nos anos 60, já é um meio de pagamento cashless, mas a evolução dos últimos anos foi exponencial. Hoje em dia o cartão bancário pode ficar em casa – ou não existir de todo -, sendo substituído por aplicações no telemóvel, códigos QR ou wearables como pulseiras e smartwatches ligados ao telemóvel. Em Portugal a novidade mais recente é o Google Pay, que além dos smartphones com sistema operativo Android, passou a estar disponível nos relógios inteligentes que tenham Wear OS, a versão para os smartwatches.

Outra inovação no nosso país foi o lançamento do Cofidis Pay, uma solução de pagamentos digital que simplifica as transações feitas com recurso a prestações. A adesão é imediata, sem contratos em papel e sem necessidade de usar um TPA. Na prática, confirmadas as condições entre o vendedor aderente e o cliente, e sendo introduzidas as informações bancárias na app de pagamentos, depois de autorizada a operação o valor da compra é creditado na loja até 24 horas depois. Já as frações de pagamento são debitadas na conta bancária cujo cartão foi usado para o Cofidis Pay.

Notas e moedas no fim da tabela em 2024

Segundo a empresa de estudos de mercado Juniper, os pagamentos contactless vão representar mais de 2,1 biliões de euros (2,5 biliões de dólares) no final de 2021, uma subida de mais de 500 mil milhões face aos 1,445 biliões de euros de 2020, que confirma as tendências de crescimento. Deste valor, 79% representam cartões bancários contactless, o que demonstra também o aumento das outras soluções NFC ou RFID, a tecnologia que permite fazer um pagamento apenas por aproximação à máquina.

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Em Portugal, os pagamentos contactless triplicaram em 2020 e, apesar do limite de 50 euros, corresponderam a 32% do total de transações com cartão. O ‘dinheiro vivo’ continua a ser o meio preferencial para os pagamentos dos portugueses em loja, com 81%, contra 73% da média europeia. Mas esses dados da UE, além de centrados nas compras físicas, são referentes a 2019, antes de todas as mudanças provocadas pela pandemia.

As alterações têm sido de tal ordem que o estudo Global Payments Report 2021 (relatório de pagamentos global), da tecnológica financeira FIS, estima que a utilização de notas e moedas para pagamentos tenha representado apenas 20% das transações globais em 2020, uma queda dos 30% do ano anterior. O mesmo documento prevê que já em 2024 o dinheiro físico seja a forma de pagamento menos usada, apenas 13% das compras a nível mundial.

Portugal, campeão dos multibancos

Não se pode fazer uma ligação direta, mas a verdade é que Portugal, cuja população mais envelhecida ou menos escolarizada ainda prefere ter dinheiro na carteira, é um dos países da Europa com mais caixas multibanco. Segundo a Associação Europeia de Transações Seguras (EAST na sigla inglesa), houve uma quebra de 2% no número de ATM no continente, onde a Croácia (13,3), e Portugal logo atrás (11,8), são os países com mais caixas por 10 mil habitantes.

Sabia que em Portugal há cerca de 12 multibancos por cada 10 mil habitantes? Na Suécia e na Noruega são apenas 2,5 ATM para o mesmo número de pessoas.

E estes números estarão até desatualizados no caso português, pois o número total de multibancos utilizado pela EAST para os seus cálculos é inferior a 12 mil, mas os dados mais recentes divulgados pelo Banco de Portugal mostram que o número de caixas multibanco cresceu para 12.054 em 2020.

No outro extremo da tabela europeia encontramos a Suécia e a Noruega. São dos países que se considera estarem mais preparados, e mais próximos, de ser cashless, com tendências digitais que já vêm de há décadas. No que ao número de caixas multibanco diz respeito, apenas 2,5 por cada 10 mil habitantes.

O top mundial de países que caminham para o fim das notas e moedas varia bastante em função dos parâmetros escolhidos, mas normalmente apresenta os mesmos nomes, quase todos da Europa e da Ásia. Suécia e Noruega estão sempre na lista do Velho Continente, bem como Holanda, Finlândia, Dinamarca, Suíça ou Reino Unido. O Canadá também é um dos líderes destacados do movimento cashless, tal como a Austrália e a Nova Zelândia. China, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong são os países asiáticos com uma cultura financeira digital mais forte.

As vantagens e desvantagens do mundo cashless

A balança do dinheiro pende sempre mais para um lado, e será seguramente a favor do digital, mas um mundo sem notas e moedas também tem aspetos que requerem atenção.

Pontos PositivosPontos Negativos
  • Rapidez e eficiência;
  • Maior segurança do dinheiro;
  • Mais transparência;
  • Facilidade na gestão da caixa e da contabilidade;
  • Pagamentos mais simples em qualquer moeda.
  • Riscos da tecnologia;
  • Exclusão de alguns clientes;
  • Segurança informática.

Não se preocupe, vai continuar a poder pagar o seu café com algumas moedas do bolso ou os legumes e fruta daquele vendedor especial no mercado. No entanto, as opções de pagamento digital continuam a crescer e o mais certo é ser surpreendido em breve, num qualquer negócio ou restaurante muito tradicional, com a frase: ‘Vai pagar com cartão ou telemóvel?’.